A Biografia de um Facínora!
Delfim Netto morreu! Em paz e cercado por amigos e família, ao contrário das vítimas do regime que ele ajudou a construir!
Morre, aos 96 anos, o ex-ministro da economia e ex-deputado Delfim Netto. Tudo leva a crer que morreu em paz, cercado por aqueles que o amavam. Ao contrário das milhares de vítimas do regime militar. Vítimas do regime que ele ajudou a desenhar e do qual sempre foi um dos mais fervorosos defensores.
Delfim foi o principal autor do chamado Milagre Econômico, um dos maiores golpes financeiros da história brasileira. Basicamente, o tal “milagre” consistia em contrair empréstimos no estrangeiro enquanto desvalorizava a moeda nacional e praticava uma política generalizada de arrocho salarial.
Para fazer os dólares renderem, sabe?
Este dinheiro era então repassado para a classe empresarial do país por meio de projetos do governo, especialmente projetos de construção civil e as chamadas “obras de desenvolvimento nacional” do PIN (Programa de Integração Nacional). Itaipu Binacional, UHE Tucuruí, Transamazônica…
Essa manobra era, ao mesmo tempo, o pagamento pelas dívidas contraídas durante o golpe de 64 (apoios, financiamentos, etc…) e uma sinalização para o empresariado de que a Ditadura Militar era um bom negócio para todos.
Para todos exceto quem mais importava, o povo.
O Milagre Econômico transformou o Brasil num país de castas. Concentrando a renda entre os mais ricos e empobrecendo (ainda mais) a população. A fome se tornou endêmica! Como revela uma pesquisa do IBGE feita em 1974, cujos resultados só vieram a público em 1985, após a derrocada do regime.
"Já fizemos uma média de 120 domicílios, estando 70% na faixa de nível baixo, 20% casos extremos e 10% pessoas que conseguem o necessário para viver. Neste último caso, considero as pessoas que têm um emprego fixo, mas vivem privadas de muita coisa ainda”.
"Em um domicílio, o homem da casa está enfraquecido devido à falta de alimentação e a senhora dele está débil mental em consequência de um parto mal feito. As crianças são raquíticas, de cor pálida e frequentemente com tosse”.
"Nas duas primeiras faixas, a base da alimentação é farinha de mandioca muito grossa feita em casa. O vestuário é sempre doado e, nos casos extremos, as pessoas cobrem o corpo com trapos disformes e imundos que cheiram mal".
A realidade era cruel, o tal do “milagre econômico” não passava de uma maquiagem sustentada pela censura e por um imaginário baseado no “economiquês” que saúda o PIB como se fosse um fator de desenvolvimento humano e bem-estar da população. Mas é importante lembrar que o povo não come PIB, como dizia a saudosa - essa sim - Maria da Conceição Tavares.
É a esse “milagre” que o ministro Fernando Haddad se refere quando saúda a memória de Delfin Netto como um homem que se dedicou ao “progresso econômico brasileiro”.
E isso para ficarmos apenas nos efeitos econômicos dos planos do “genial” Delfin Netto, como definiu de forma não irônica o senador Randolfe Rodrigues. Se formos além, se falarmos, por exemplo, das consequências do “desenvolvimentismo” articulado pelo ministério, nos depararemos com algumas das maiores atrocidades da era moderna. Estamos falando de invasões de terras indígenas e do genocídio dessas populações durante o período da Ditadura Militar.
Crimes cujas consequências são sentidas até hoje.
Sabe as obras do PIN, financiadas por empréstimos e operadas por empreiteiras amigas do governo? A maior parte desses empreendimentos ou foram realizados dentro de territórios indígenas, ou nas suas vizinhanças. Como a Transamazônica.
“Um dos grandes nomes que o país teve no século XX”.
E isso não é tudo. Pois existem fortes indícios de que Delfim Neto participou ativamente de reuniões com o empresariado nacional para angariar apoios (leia-se financiamento) para o aparelho repressor da Ditadura Militar. Não é de se estranhar que ele tenha sido um dos apoiadores mais entusiasmados do AI-5, do qual era, inclusive, o último signatário vivo.
E mesmo assim, a despeito de tudo isso, esse homem foi considerado pelo presidente Lula como um aliado, sendo, inclusive, chamado para compor o "Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social" do seu primeiro governo, com direito a indicações de "aliados" para cargos influentes em estatais. Em 2006 Lula pediu desculpas públicas pelas críticas que havia feito a Delfim e, não satisfeito, em 2010, chegou a criticar publicamente o eleitorado paulista por não tê-lo reeleito.
Hoje o Planalto emitiu uma nota de luto em seu nome. No mesmo ano em que vetou os atos em memória das vítimas do regime que ele ajudou a construir!
Desesperador ver tanta gente lamentando de forma sincera a morte desse ser humano.
Milagre Econômico: um exemplo em nossa história, dos mais perversos, de controle de propaganda por parte do Estado. Incrível como existem tantas pessoas que compram até hoje essa ideia.